Psicodelismos em prosa

À Quintana:

E todos aquilos
que um dia atravancaram o meu corpinho
(...)

Eles passaram.
Eu passarinho! v.V

_Aline, 21/03/2015.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Via Crucis


Cheguei à vida por intermédio de tuas mãos
Convivemos por onze delicados dias
Depois nos perdemos


Pisei outras pedras - menos cheias de história -
Avistei montanhas sem o entrecorte de tuas cúpulas
E arranha-céus sem tuas coroas imperiais

Ouvi vozes
Que não eram as dos teus sinos
Não senti saudade tua

Troquei teus templos dourados
Por outros nada barrocos - tampouco sagrados -
Aventurei-me no profano
Segui
Ignorante de que havias construído de tuas pontes
Entre nós

Estou de novo em tuas entranhas
E cada beco teu
Parece devolver uma parte minha
Reintegro-as

Absorvo tua arte
Descubro novos ofícios
Restauro-me
Restituo em prosa
O que me revelas em dor


E em imagem onírica posso -  ao fim - vislumbrar 
tua Maria Fumaça - em chamas -
Cruzando o horizonte 
Levando consigo o cale-se 
Que um dia foi meu.


(Aline Barra - 07/04/2011)


Fotografia: Netun Lima

3 comentários:

  1. Bravo!

    ps.: mas sugiro que avise nos próximos: "Exilados, providenciem lenços antes de começar o deleite"

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  2. não sei o que dizer... uma palavra meu Deus, queria uma palavra, talvez : superação!!!

    amei!!!

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  3. A tradição concretista novamente aparece em seu poema. Um verso maior, um verso menor... e faz-se o desenho na página, mas, como sempre, é só um acréscimo. A essência é muito mais que isso. É a vida!

    Perfeita a fusão de cidade e cidadã. A cidade já não é mais algo externo, mora no corpo, na alma de quem se apaixonou por ela.

    Embora as circunstâncias do poema sejam outras, lembra o poema do Drummond, Coração numeroso:

    "O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
    A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
    a cidade sou eu
    sou eu a cidade
    meu amor."

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