Psicodelismos em prosa

À Quintana:

E todos aquilos
que um dia atravancaram o meu corpinho
(...)

Eles passaram.
Eu passarinho! v.V

_Aline, 21/03/2015.



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A face (nua) do Palhaço

O rosto,
agora sem pintura
escondia-se por debaixo do chapéu

Um pouco mais distante
menos colorido, talvez
Mas ainda vestido do mesmo sorriso
e despido pelo mesmo olhar

O Palhaço andava sumido
provavelmente, levando alegria
a outros picadeiros

Ou, quem sabe
recluso
imerso em sua tristeza
compondo o próximo auto

Era possível que as tintas ocultassem
aquele rosto cor de trigo
e até disfarçassem o sorriso acanhado
Era possível não ver o coração
contido
depois do suspensório

Só não era possível
- nem mesmo à chuva torrente
daquela noite -
desfocar o Palhaço
retratado
nos olhos sem pintura
daquele rosto
pálido.

(Aline Barra - 25/11/2010)




sábado, 30 de outubro de 2010

Amor Platônico

Eu o vi
Casualmente
Ele nem parecia tão irresistível assim
Mas tinha qualquer coisa que me encantava

Talvez os olhos
(verdemente hipnotizantes)
Ou a pele
(delicadamente branca)
Como saber?
Não importava...

Ele se tornaria personagem da minha fantasia
E seria perfeito
(como os poemas de Vinícius ou as crônicas do Pena)

Quimérico e intocável
Foi com ele que descobri:
A alquimia das palavras
pode ser quebrada pela in-sensibilidade da química

Enfim,
É como disse o poeta de Itabira:
"Se dissipou, não era poesia"!

(Aline Barra - 08/08/2010)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Esboço, meu

Um amontoado de
Desejos
Urgências
Saudade e
Fome

Um quê de
Inconstância
Melancolia
Saciedade
Sabor e
Angústia

Uma alma inquieta
vestida de fleuma.

Um olhar triste
coberto de lentes.

Um sorriso tímido
colorido de esperança.

Uma natureza audaz
apoiada em incertezas.

Uma essência recatada
despida em palavras.

Um universo de sonhos
estampado em poesia.

Bailarina.
Equilibrista.

Náufraga
do amor.
Navegante
na vida!

(Aline Barra - 24/10/2010)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O reverso do Palhaço

De fala romântica
E coração cigano
O Palhaço também era
Caixeiro viajante
(vendedor de sonhos)
Exímio negociante
Hábil na arte do encanto

Na bagagem
Uma prateleira

Guardava olhar doce (e ávido)
Atitude generosa
Sentimentos confusos
E uma peculiar coleção de amores

A sacola amarela levava
Os apetrechos de pintura

Pintava rostos e coisas
Incluindo quadros e emoções

Pintava a vida
Evitava a dor
Pintava música
Cantava cor

Mas o artigo mais cobiçado
Do Palhaço vendedor
Não estava na prateleira
Nem na sacola amarela
Tampouco eram os sonhos

Ele tinha qualquer coisa que não se vê
Qualquer coisa que só se pode ter
De olhos fechados...

(Aline Barra - 11/10/2010)



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Palhaço e a Dama Vagabunda

Em meio à boemia
Era a poesia o que os unia
Ele
multi artista boêmio apaixonado
Ela
perdida
Sem arte nem paixão
tudo que sabia era transformar dor em poesia

Ele
um misto de Dom Quixote e Arlequim
hora vestido de armaduras
hora envolto em retalhos multi coloridos
Ela
Dama náufraga
Viu-se Colombina
serva
dos teus encantos

E como por encanto
no instante em que os pássaros cantaram
e os relógios pararam
a poesia (deles) se fez presente
E ela conseguiu ganhar-lhe o coração

Mas,
os relógios tinham que seguir
E até mesmo os pássaros
precisavam de descanso
para renovar teu [en]canto...

(Aline Barra - 10/09/2010)



quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quem sou eu:

Posso ser de tudo um pouco
Cada dia uma
Depende do tempo
Se tem sol ou tempestade
E toda auto descrição será limitada
Tenderei a enfatizar minhas qualidades
(para conquistar tua admiração)
Ou...
Num surto de modéstia ou melancolia
Realçarei meus defeitos e angústias
(talvez, pra despertar tua compaixão)
Mas a descrição permanecerá insuficiente
Primeiro
Pela razão de sermos seres inacabados
Em constante metamorfose
Depois
Porque por mais que eu diga de mim
O teu olhar é que me fará mais bela ou mais fera.


(Aline Barra - 15/07/2010)

domingo, 27 de junho de 2010

Inverno

O sol agora é tímido

A neblina, ao contrário, perdeu a vergonha
O dia recolhe-se precocemente
E a noite apressa-se em cair
É inverno lá fora
Mas, sobretudo, é inverno aqui dentro
É a minha alma que sente frio.



(Aline Barra - 27/06/2010)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Rodavida

No caos
a descoberta
Na descoberta
o reencontro

As mãos e os pés
O umbigo e o púbis
A cabeça e os joelhos

A razão e o instinto
A rigidez e a flexibilidade
O corpo e a alma

Do caos
a dualidade
Da dualidade
o equilíbrio

e a fluidez...

a vida pode ser uma brincadeira de roda.




(Aline Barra - 23/06/2010)