Psicodelismos em prosa

À Quintana:

E todos aquilos
que um dia atravancaram o meu corpinho
(...)

Eles passaram.
Eu passarinho! v.V

_Aline, 21/03/2015.



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Das janelas que dão para o lado de dentro

- para Luiz Fernando Carvalho

Hoje eu conheci um homem que constrói imagens em busca de janelas
Ele me comoveu
Era um moço alto
, elegante
Chegou como chegam as pessoas grandes do lado de dentro
Sem estardalhaço

Sentou-se
Acompanhado de outro gigante discreto
Ambos tinham olhos que abriam portas para arcaicas lavouras
- e para as distâncias que o amor pode abarcar -

Mas o homem que busca janelas me comoveu
Sim. Eu já disse

O que eu não disse é que a primeira delicadeza a me comover nele
Não vinha da mitopoese dos seus relatos
Mas das meias verdes que escapavam de suas botas

Aquelas meias provocaram meu imaginário
Era a segunda vez que um homem de terno me desviava a atenção para o improvável
: a cor de suas meias

O primeiro foi Ariano Suassuna
que foi receber homenagem - lá na terra de el Rei –
e levou sua poesia nos pés
, vestida de vermelho

Agora este
que veio para homenagear
e trouxe também nos pés
a lavoura que começou a cultivar quando ainda via pela janela dos olhos de sua mãe

Hoje eu conheci um homem que constrói imagens
Usa meias verdes
É amigo do homem de meias vermelhas
E abre janelas que dão para o lado de dentro.


Imagem do filme Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho



(Aline Barra – 29/11/2012)

Texto motivado pela conversa, promovida pela Balada Literária 2012 (http://baladaliteraria.zip.net/), com Luiz Fernando Carvalho e Raduan Nassar, respectivamente diretor do filme (2001) e autor do livro (1975) Lavoura Arcaica.