Psicodelismos em prosa

À Quintana:

E todos aquilos
que um dia atravancaram o meu corpinho
(...)

Eles passaram.
Eu passarinho! v.V

_Aline, 21/03/2015.



domingo, 30 de setembro de 2012

Carta ao poeta

Sabe, Manuel

aqui não é Pasárgada
não sou amiga do rei
não faço ginástica
não ando de bicicleta
não monto burro brabo

e ainda preciso pintar a cara se quiser ter o pão

mas quando de noite fico triste
- com vontade de me matar - 

finjo que não noto o rodopiar desvairado dos ponteiros do relógio
paro o tempo
ao meu prazer
como se fosse eu
amiga do rei

ouço o cantar ensurdecedor dos pássaros de lata
como se ouvisse Vinícius proseando
- para uma menina com uma flor - 

É, Manuel

aqui não é como em Pasárgada
não sou amiga do rei
não tenho tudo o que quero
não é outra civilização 

e tampouco há modo seguro pra impedir a má educação

mas quando de repente fico triste
- triste de não ter jeito - 

re-invento-me amiga do rei
pinto-me de poeta
e descubro que sou feliz
assim

Poeta (!)

(Aline Barra - 30/09/2012)


Imagem do filme O Palhaço, de Selton Mello

"o gato bebe leite
o rato come queijo
e eu sou palhaço!"


6 comentários:

  1. "alguma coisa acontece no meu coração
    que só quando cruzo..." C.V.

    sempre gosto de ler 'vc' Line!

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  2. Aline, cada um de nós tem uma Pássargada dentro de si. Nunca chegaremos a ela, mas buscá-la faz com que construamos a cidade possível que possa, um dia, sustentar nossos passos. E seremos então, não amigo do rei, mas o próprio rei, no reino de um só indivíduo, majestosamente sentado no próprio trono interior.

    No mais, cito Mário Quintana:
    "Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade, como é que poderá ser infeliz?"

    Beijo!

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    1. Robert, o que mais posso dizer? Vc é um exímio leitor da alma humana!

      Fico muito feliz com sua presença por aqui!

      Obrigada! =]

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  3. Aline! Saudades também! Que poema lindo e verdadeiro! Somos felizes por sermos assim: nem somos amigas do rei, nem temos 'o homem' que queremos na cama que escolheremos, mas, somos poetas, e isso nos basta para reinventar nossas vidas! Abraço apertado do nordeste! Um xero!

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    1. É isso, Camila!!!
      E é sempre muito bom receber este xero e este abraço do nordeste! :D

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  4. A poesia não se explica, ela simplesmente é. Parabéns pela beleza das palavras!

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